E ao 1º dia, Cavaco abre a crise política

CavacoAnoNovo

Nem todas as críticas serão, seguramente, desprovidas de sentido, o discurso não foi, obviamente, perfeito, mas eu gostei de ouvir a mensagem de Ano Novo do Presidente da República. No final, Cavaco Silva foi até bastante claro, talvez como nunca tinha sido antes, ao longo deste último ano e meio. Preciso nas críticas ao Governo e ao Orçamento do Estado para 2013, que decidiu enviar para o Tribunal Constitucional.

Se existiam dúvidas, a crise política foi oficialmente aberta no primeiro dia deste novo ano. E sem mensagens veladas. Cavaco disse preto no branco que discorda do Governo, pior, que censura a política económica de Passos e Gaspar – a do “ciclo vicioso” que conduziu o país a uma “espiral recessiva”. Acusou o Governo de injustiça, pois através da austeridade sacrificou mais uns do que outros, e apontou o dedo à correcção do desequilíbrio das contas públicas com um crescimento negativo, que “tende a ser socialmente insustentável”. Disse mais: que é “fulcral” o país concentrar-se no crescimento económico, senão de nada valerão os sacrifícios.

E sempre diretamente para Passos e Gaspar, Cavaco falou também de algo essencial, provavelmente do mais importante: da necessidade de recuperar a confiança dos portugueses, já que basta de agradar à troika. No final, Cavaco mais não fez do que mostrar um rotundo chumbo à actuação do Governo. Foi um inequívoco atestado de incompetência passado a Pedro Passos Coelho, em forma de mensagem de Ano Novo. Disse Cavaco: “Se todos trabalharem bem e fizerem o que lhes compete é possível que o crescimento seja uma realidade” em 2013″. Em relação ao que deve ser feito, Cavaco foi mais vago, mas sempre foi dizendo que não se trata de pedir de perdão de dívida, mas sim de Portugal usar os seus argumentos “com firmeza” para com o apoio da União Europeia encontrar o melhor caminho para o crescimento. A governação ao Governo.

É por isso que gostei de Cavaco e que me esforcei para não misturar as polémicas da sua reforma ou do BPN. Este discurso pode bem marcar o início de uma nova fase da vida política, à qual nem o próprio Presidente da República escapará. Depois disto, se nada mudar, Cavaco será sempre um dos principais responsáveis. Conforme disse na sua mensagem, no meio desta crise, os agentes políticos têm que se comportar com grande sentido de responsabilidade, Presidente da República incluído. Por isso, esta mensagem não é para cair em saco roto.

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