No palácio do Turquemenistão a decoração é portuguesa

Carlos, presidente da Frato
Artigo publicado no Dinheiro Vivo
Fotografia de Rui Oliveira/Global Imagens

A esta hora a equipa da Frato, destacada em Asgabate, no Turquemenistão, já se livrou dos 15 graus negativos e regressou à Maia, onde Patrícia e Carlos Santos têm a empresa portuguesa de mobiliário de luxo que foi contratada para mobilar o palácio presidencial e os edifícios dos ministérios daquele país da Ásia Central. Missão cumprida.
O contrato de um milhão de euros adjudicado em meados do ano passado à Frato pela Vinci – os franceses que venceram a privatização da ANA – foi disputado com concorrentes eslovacos e italianos. “Correu muito bem. Foram feitos protótipos. Cerca de 80% das peças tinham desenho do cliente e nós produzimos o que nos foi pedido. Foi uma boa forma de testar o conceito e o modelo de negócios”, explicou ao Dinheiro Vivo Carlos Santos, presidente executivo.

Depois deste projeto, a Frato, cuja denominação resulta da fusão dos nomes dos dois filhos gémeos destes empresários – Francisco e Tomás -, também já forneceu com mobiliário, estofo e iluminação o Four Seasons em Moscovo. “O hotel abre este ano, mas o fornecimento ocorreu em 2013. É um projeto de coleção própria. A arquitetura de interiores é da inglesa Richmond, mas as peças são desenhadas e produzidas por nós”, acrescentou o gestor.

A equipa de criativos da Frato é liderada por Patrícia Santos, enquanto Carlos se dedica ao negócio. No dia 1 de fevereiro, a empresa portuguesa inaugurou, a convite do Harrods, um espaço de 200 metros quadrados no piso 3 dos armazéns londrinos. Em 2014, a faturação prevista para o Harrods é de dois milhões de euros.

E foi criada recentemente uma participada vocacionada para produzir soluções à medida para hotelaria, com ou sem desenho próprio – a Idesi, que já está a negociar mais projetos de hotéis em Beirute, no Líbano e na Arábia Saudita. Este mês foi apresentado em Paris, na Maison et Objet, a principal feira de decoração e interiores do mundo, um quarto de hotel desenhado e produzido pelo grupo português. “É um investimento que permite mostrar uma solução integrada, em que desenhamos e produzimos. Uma solução chave na mão”, adiantou Carlos Santos.

Estes são apenas os projetos mais mediáticos da Frato nos seus quatro anos de vida. A empresa nasceu em janeiro de 2010, ano em que faturou 200 mil euros. No ano passado, o volume de negócios fixou-se em 2,5 milhões de euros, os lucros rondaram os 30 mil euros e as perspetivas para 2014 “são boas”.

“Fizemos um investimento de cerca de 300 mil euros no Harrods, queremos afinar o modelo para, eventualmente, abrir mais duas lojas neste ano. Estamos a analisar espaços na Europa e no Médio Oriente. Não temos pressão para crescer”, justificou o presidente executivo da Frato. Além disso, a empresa prevê lançar-se no mercado norte-americano em 2015, estando prevista a constituição de uma empresa nos Estados Unidos e a abertura de lojas. “Não é possível fazer distribuição nos Estados Unidos se não estivermos lá”, explicou o mesmo responsável.

Tudo o que foi feito até agora foi sem recurso a crédito. Segundo explicou Carlos Santos, “o mais importante é que o nosso break even é sensivelmente 50% da faturação, ou seja, no próprio ano a empresa gera mais-valias capazes de sustentar os investimentos. Terminámos 2013 com um endividamento de 1% do volume de negócios, ou seja, um endividamento praticamente nulo”.

Portugal com 1% das exportações mundiais
Nascida para exportar, a Frato apenas vendeu em Portugal 2,5% da sua produção. “Desde o início optámos pelo mercado externo, nunca fizemos uma feira em Portugal para apresentar o nosso trabalho. O mercado em Portugal é muito pequeno. Só Londres será quatro ou cinco vezes o mercado nacional”, adiantou Carlos Santos. No panorama internacional existe, na sua opinião, cada vez mais espaço para a produção de mobiliário na Europa. E aqui Itália e Portugal são dos países mais bem posicionados – Itália tem 7% das exportações mundiais, enquanto Portugal se fica por 1%.

“Temos espaço para crescer. Exportámos 1200 milhões de euros de mobiliário em 2013 e com alguma facilidade poderemos acrescentar mais-valia ao que produzimos”, defendeu o gestor. Para a ascendência da Europa tem contribuído a perda de competitividade da China, que ainda tem uma quota de 30% das exportações mundiais de mobiliário. “Na empresa onde era sócio produzíamos muito na China, mas este país tem padecido de duas dificuldades: aumento do custo da mão-de-obra e apreciação do yuan, que tem tirado competitividade às exportações chinesas”, acrescentou.

Atualmente, todos os móveis da Frato são feitos em Portugal, no Norte, onde a empresa tem a sua fábrica, que emprega 24 pessoas. Os restantes artigos encomendados à empresa – iluminação, estofos, abat-jours – são subcontratados a outros produtores locais. Por questões de logística, tudo se situa no perímetro das instalações da Frato. “São parceiros de longa data, começaram a trabalhar connosco e crescem connosco. Mais de metade dos nossos fornecedores terão cerca de 50% da sua faturação com a Frato”, explicou o gestor em entrevista ao Dinheiro Vivo.

Neste ano, a empresa da Maia investirá numa unidade de acabamentos com o objetivo de potenciar o conceito chave na mão, desde o momento da criação e desenho até à instalação dos artigos.

Leave a comment